quinta-feira, 24 de julho de 2008

Apresentação título Entre... Céu e Mar

ANA SUELY – APRESENTACAO

Ana Suely é ativista cultural em tempo integral, bibliotecária de formação e poeta por dedicação ou decorrência de seu projeto de vida. Vive entre livros e leitores, promovendo a leitura e os autores. Consagrada ao exercício da palavra, que tira dos livros para dar-lhes vida em saraus, concursos de poesia, fórum e debates públicos.
É natural que ela queira ter o próprio livro, de sua lavra e risco, para chamar de seu, como diz uma canção popular. Daí a gênese de Entre Céu e Mar... Talvez a gênese nem seja assim premeditada, tenha surgido aos poucos, de suas atividades, como subproduto de uma relação com as idéias e as pessoas.
Diga-se antes de tudo: Ana Suely é afável, generosa e seus textos necessariamente haveriam de expressar tanta vitalidade e altruísmo. Em partes que somam uma visão muito particular de ver o mundo. Repito: afável. Encantos, natureza, sensações, tempo... Em verdade, um painel de textos poéticos e de registros no mesmo diapasão: confissões, declarações, reflexões, desabafos, reunidos em volume em que chega a seu público cativo, `as pessoas a quem dedica os textos e com quem compartilha seus sentimentos. Também expõe suas impressões de viagens, em tom mais confessional que descritivo, com que pretende inscrever visões, revisões, guardar e trocar informações e entendimento do mundo e de seu entorno. Singela, sincera, sensível como também se apresenta em persona a seus amigos e admiradores.
Que a leitura de seus textos nos permita conhecê-la melhor e conviver com sua espontânea forma de ser. Nada melhor do que pelo caminho da poesia.

Antonio Miranda

Prefácio do título Encontros Encantos

Prefácio


Frei Betto


Encontros Encantos soa como um piano afinado.
Ana Suely dedilha sensibilidade, navegando por
Mitos e nostalgias, amores e flores, sonhos e utopias.
Este livro é um tratado de geografia da alma,
Lancetada por aventuras que esbarram na finitude
Humana e, no entanto, gritam pelo Absoluto.
O recurso a metáfora, próprio à linguagem poética,
Permite que, aqui, evocações e lembranças, afetos
e utopias, ecoem como símbolos que, pelo verso,
trazem à tona o nosso reverso.
Esses poemas, à semelhança dos salmos, traduzem
nossa topogafia interior e, ao mesmo tempo, nos
convocam à busca da própria identidade.
Encantam e induzem ao encontro – consigo, com
Os outros, com os recantos mais profundos de nossa
alma e com os recônditos mais sublimes da vida.
Eis um texto para ser saboreado. Ana Suely brinda
A nós, leitores, com o melhor de sua criação.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Saga

Saga

Era dia 9 de dezembro de 1995. Aeroporto lotado, presença de amigos, familiares... a despedida... o embarque com destino a Brasília. Difícil encerrar um tempo, uma etapa da vida, uma convivência que certamente não haveria nunca mais.

Adeus aos familiares no dia-a-dia, ao mar que tanto inspira e aquece o coração, ao cheiro do solo, do suor, da música, da alma cearense, a um aconchego que especialmente eles sabem dar.

Era uma partida “de vera”... de mala e cuia... por escolha, por opção, por necessidade... era a busca de um futuro, de garantir um emprego, um passaporte à sobrevivência... era um sonho, uma previsão, um desejo medroso, um desafio...

Brasília nos acolheu de braços abertos, nos sentando em seu colo, nos aconchegando em seu seio materno, como acolhe os que vêm de diversas fronteiras carregando na mala a boa intenção.

Cidade “fria” – dizem alguns – eu diria que não... a diversidade de estações faz a diferença e a torna agradável, bela, acolhedora, patriota... custo alto, mas que paga a qualidade de vida... espaço para crescer, seja nos estudos, no emprego, na arte, na literatura... anônima, mas declarada dentro do seu contexto... cidade amada, linda, bela, aconchegante para uns... corrupta, distante, dizem outros.

Brasília, agradeço-lhe pela receptividade, pela acolhida, pelas oportunidades... agradeço pelo mar que seu céu nos oferece, tornando-nos mais poetas, mais enigmáticos, mais filosóficos.

Brasília de esperança, de tentativa, de calma, de agitação... que faz acreditar, teimar e esperar...Brasília, Brasil... vida... onde tudo deveria ser levado com muita seriedade, respeitando as leis da natureza, do universo e dos homens... assim, tudo seria mais harmonia.

No dia em que todos entenderem sua linguagem, querida Brasília, certamente deixaremos de ser filhos pródigos.

Brasília, quero ficar em seus braços até o dia em que eu me sentir feliz por existir, por estar aqui... e que consiga reconhecer tua gratidão!Amo você!

Ana Suely Pinho Lopes (Brasília - DF)

Parque Nacional do Xingu - kuarup: alma indígena

Parque Nacional do Xingu - kuarup: alma indígena

Em julho de 2003 tive a felicidade de conhecer o Parque Nacional do Xingu e assistir ao Kuarup, uma reverência a seus mortos ilustres. Naquela oportunidade a homenagem era dedicada ao sertanista Orlando Villas Boas, grande guerreiro e defensor da causa indígena.

A predominância dos brancos foi grande e evidenciou o seu domínio sobre o indígena. Pude presenciar essa coisa ainda viva em nossa cultura, através de atitudes e concepções, traduzida em intromissão, no domínio, no ar de superioridade, na falta de respeito.

Mesmo com a intervenção constante do branco, busquei do fundo da minh’alma sentir e vivenciar o SER ÍNDIO, por meio de gestos, costumes, olhares e da expressão que tanto se faz presente e impressiona!

Não quero registrar apenas indignação, pois desde que iniciei meus escritos, jurei a mim mesma relatar o protesto sim, a evocação, o grito de insatisfação, de alerta; mas procurar evidenciar o belo, o etéreo, o sagrado; enfim, expressar a beleza da natureza seja qual for a forma como se apresente.

Com aquela gente – que nos faz lembrar nossa origem, que temos família, que fomos feitos para viver em harmonia – senti-me pequenina diante de suas grandezas, desde o gesto infantil até o respeito ao próximo, que estamos perdendo dia-a-dia.

Fiquei emocionada quando Killir, uma indiazinha meiga, companheira, linda, perguntou-me o nome dos meus pais (já não os tenho mais em vida). Senti que ainda há quem dê valor ao espírito de família e se importe com os outros.A companhia daquela indiazinha mexeu muito comigo.

Ficou tão perplexa por nossos atos, atitudes, comportamentos, modelos, costumes, exemplos e, de repente, fiz uma leitura de que não tinha o que ensinar, e sim muito a aprender com o povo indígena.

Eles se comportam de forma feliz, simples, inocente, natural e cativante - exemplo para nós. O viver, o simplesmente ser, em tudo que lhes diz respeito. A harmonia nos gestos, nos traços da cabana, nas cores exóticas, no preparo dos alimentos, no olhar e no relacionamento.

O diálogo entre os familiares ao deitar, ao acordar, soa como um compromisso à própria vida, à própria natureza harmônica e livre. A naturalidade na forma expressiva do ser, do fazer e do respeitar. O coração do cacique Aritana, ilustre líder indígena, enaltece a imensa maloca com seu aspecto soberano – simples, tão expressivo quanto sua sabedoria – seu dom de ouvir e acolher quem está “em seus braços”. Impressionante, louvável e porque não dizer, apaixonante! Seu olhar seguro, determinado, firme e grandioso carrega valores e transmite aulas vivas de sabedoria e aprendizagem de vida.

A submissão das mulheres lhes garante o direito de companheiras, protegidas e também guerreiras, pois cabe a cada uma o seu espaço, o seu trabalho e determinação.

O céu do Xingu, grandioso chão de estrelas reluzindo sobre os seres, piscando incansavelmente, faz-me acreditar que existe o céu na terra. Um banho de estrelas caindo em forma de véu, envolto numa cortina imensa, à qual apenas os abençoados por natureza têm acesso.

Senti falta da chuva, mas entendi sua ausência como um sinal de respeito. Naquele momento eu interpretaria sua presença como uma lágrima da mãe natureza em confronto com a maldade humana e preferi assim...Os rios, carregando a lembrança de sonhos de criança, de paz e esperança, ainda que sofridos, desgastados pelo assoreamento, oferecem o espírito de liberdade e me permitiram viver a sensação de céu, do divino, da natureza que eu só conhecia em sonhos.

A dança das gaivotas, nos acompanhando num sobe-e-desce sobre a voadeira, num entrecortar de asas, em harmonia perfeita, cantavam, revoavam e, num compasso exuberante, nos deixaram (uma poetisa, um artista plástico e um jornalista) fascinados. Ofereciam um espetáculo magnífico sem hora marcada, sem ingresso e sem ensaios.

O único passaporte exigido, naturalmente, foi a coragem de desafiar os costumes, o comodismo e o sedentarismo largados na sociedade “civilizada”. Ecoavam aos céus, às águas, aos seres um grito de liberdade, de viver e nos transmitiam uma mensagem de que ainda é possível sermos felizes.
Foi mais que uma viagem; foi um sonho, um reencontro às origens, um retorno à infância, um repensar do viver, do ser, enquanto fincados na evolução, no distanciamento da fraternidade em nome do avanço tecnológico.

Um encontro de vida, uma lição de amor, de bondade e sabedoria por uma gente a quem tanto devemos, e que hoje num gesto sublime de magnitude, resiste, ainda que com toda a intromissão do branco.

Eles perduram. Guerreiros d’alma, em plena vida. Gente com quem tanto precisamos aprender, reaprender a nos tornarmos mais gente!

Homenagem especial ao Aritana, líder da tribo indígena Yaualapiti.

Ana Suely Pinho Lopes (Brasília - DF)

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Domingo sem (a)Mar

O domingo me acorda
Sinto falta da mão, do gosto, da cor, da aura do mar...
Pensamentos borbulham entre o eu, o você, o tudo.

A frustração do nada acontecer me atordoa.
Na noite anterior, sussurros, encontros surreais.
O hoje foge, o ontem aparece
O amanhã imóvel não responde...
Encontro a mim mesma
na música, em pensamentos que me delatam.

O vinho, único e presente companheiro...
O teclado completamente mudo apenas obedece.

Encontro você no gesto da ansiedade,
na busca do encontro do encanto que
apenas você conhece e
desperta a paixão para
delatar-se e
acatar o desejo
do encontro que, efêmero, se transforma em eterno!




Ana Suely Pinho Lopes (Brasília – DF)

Canto Boêmio

Em instantes abertos na vida,
entra de leve a saudade;
no copo falta bebida,
à mesa, a presença amiga.

Alguns pensamentos viajam,
outros ocupam o travesseiro.
A imaginação voa alto
com olhos fitos no além.

O poeta, louco a lembrar,
sofre saudade de alguém,
desejando encontrar o amor
que ora não tem.

O bêbado, atordoado a cantar,
cumprimenta o vento passante,
sorri feito menino,
lembrando-se de outrora.

Junto ao poste, canta à lua.
Relembra a amada nua,
mal sabendo o que um dia
foi momento de fantasia...

Ana Suely Pinho Lopes (Brasília - DF)